Monday 18 January 2010

A escrita em Macau: uma literatura de circunstâncias ou as circunstâncias de uma literatura

A escrita em Macau: uma literatura de circunstâncias ou as circunstâncias de uma literatura


David Brookshaw, Universidade de Bristol, Reino Unido.







Este ensaio, além de fornecer um olhar sobre a escrita em Macau em termos da sua periodização, pretende analisar os vínculos, mais ou menos estreitos, que existem entre o momento político e histórico e a produção literária, justificando assim o título, nomeadamente que a escrita decorre de certas circunstâncias sem as quais não haveria literatura. Isto é, a produção literária necessita de uma conjuntura de elementos: meios de comunicação (jornais, revistas), o que implica um público leitor e uma incipiente crítica literária, e em situações coloniais ou pós-coloniais, um projecto político-cultural que põe a literatura ao serviço da expressão de uma identidade regional ou nacional – mesmo que esse projecto venha a ser ultrapassado e/ou rechaçado, ou até parodiado pela própria expressão literária1. Basta pensarmos nas literaturas africanas em língua portuguesa das últimas cinco décadas, ou na literatura brasileira em determinadas épocas dos Século XIX e XX.
Antes de tentar qualquer definição da escrita em Macau, convém considerarmos o que queremos dizer pelo termo ‘literatura’ além das categorias tradicionais de ficção, poesia e teatro. No contexto específico de Macau, por exemplo, existe, de longa data, uma imprensa em língua portuguesa (e evidentemente em chinês), e portanto uma tradição jornalística que não pode ser ignorada em qualquer estudo da escrita em Macau. O jornalismo em Macau remonta ao início do Século XIX, com a publicação dos primeiros jornais e periódicos em português na sequência da revolução liberal de 1822. Os jornais defendiam diversas posições políticas, o que deu origem a uma tradição ensaística que continua até os nossos dias. Muitos dos jornalistas portugueses que se radicaram em Macau ao longo dos anos eram também professores e estudiosos da cultura local, sendo personalidades como Manuel da Silva Mendes e José Silveira Machado as figuras mais emblemáticas dessa tendência no Século XX. Em segundo lugar, a situação de Macau como ponto de chegada para muitos portugueses em funções oficiais ao longo dos anos, e como ponto de partida para gerações de macaenses que deixaram a sua terra natal à procura de melhores oportunidades, produziu por um lado uma literatura de reportagem e de viagens, e por outro relatos autobiográficos, estes últimos de particular importância para uma apreciação da sensibilidade dos macaenses em relação ao seu passado, e à evocação da sua terra natal através da memória. Nesta categoria, podemos incluir os livros publicados nos Estados Unidos, de Felipe B. Nery, Filho de Macau (a Son of Macao): an Autobiography (1988) e, muito especialmente, The Wind amongst the Ruins: a Childhood in Macao (1993), de Edith Jorge de Martini, ambos autores que parecem ter abandonado o português, pelo menos como meio de expressão escrita, assim como os poemas de Rita Lopes, residente na Califórnia, esses sim em português e publicados na imprensa de Macau e na internet3.
Se aceitarmos, portanto, que a literatura de Macau pode incluir toda a gama da escrita, temos também de considerar, antes de tentar qualquer periodização da produção literária, a questão fundamental da língua e da origem dos autores, problemática aliás discutida por Cheng Wai Ming e por Ana Paula Laborinho entre outros. Em primeiro lugar, para determinar o que constitui a identidade macaense, devemos estar consciente de que a esmagadora maioria da população neste antigo território português tem o chinês como primeira e muitas vezes única língua. Aqui, convém notar que a população de Macau em 1999, consistia em 98% de etnia chinesa, a grande maioria desta porcentagem oriúnda de outras partes da China – isto é não nascida em Macau - sendo o resto composto de portugueses e macaenses, talvez uns doze mil numa população que rodeava os 440 mil. Por isso, existe, como é óbvio, uma tradição de escrita sobre Macau nessa língua, que abrange escritores como Tang Xian Zu (1550-1616), Wei Yuan (1794-1857), e Zheng Guan Ying (1842-1922) que visitaram ou residiram na cidade ao longo dos séculos e que lá situaram parte da sua obra. Muitos desses visitantes, dada a situação política ambígua de Macau, se encontravam em missões oficiais imperiais, tal como os seus congêneres portugueses. Na realidade, durante grande parte da sua história, tratava-se de um território na periferia de duas potências imperiais, em que a soberania de cada uma se exercia com subtilezas diplomáticas, para esquivar, tanto quanto possível, confrontos abertos.
Mais recentemente, muitos fizeram a sua aprendizagem como escritores na imprensa em língua chinesa que surgiu em paralelo à portuguesa. Desconhecidos pelo público leitor português, só nos últimos anos da administração portuguesa é que houve uma tentativa de tornar alguns escritores contemporâneos chineses acessíveis através de traduções: Sete Estrelas (Antologia de Prosas Femininas (1998) e Olhando as Colinas (2000), este último reunindo artigos e crónicas do autor Lou Mau. Por fim, a Antologia de Poetas de Macau (1999), organizada por Jorge Arrimar e Yao Jing Ming, contém exemplos de poemas de escritores chineses ligados a Macau ao longo do Século XX, com um número crescente de autores nascidos ou radicados na cidade nas décadas mais recentes. Uma obra que é importante mencionar aqui é a novela, Aoge de huànjue shijie, publicada em 1999 e traduzida para o francês como Las Hallucinations d’Ao Ge, da autora Liao Zixin, residente em Macau embora nascida na Cambodja4. Esta novela é única na produção literária em Macau, já que se trata da visão de uma chinesa sobre a situação do macaense perante a sua dupla herança, nas vésperas da transferência de Macau para a China.
A interpretação mais liberal (ou plural) do que constitui a escrita de Macau seria aceitarmos todas as obras em quaisquer línguas que tivessem como pano de fundo Macau: essa categoria poderia abranger entre muitos outros o romancista australiano Brian Castro, natural de Hong Kong, filho de um português de Xangai (e portanto vinculado também a Macau), e cuja obra enfoca em parte a sua herança luso-asiática, especialmente o seu romance (auto)biográfico, Shanghai Dancing (2003), mas também visível em Pomeroy (1991), e articulada nos ensaios publicados com o título Looking for Estrellita (1999); Timothy Mo, escritor também anglófono nascido em Hong Kong de pai chinês e mãe britânica, com vários romances situados em Macau ou em que há personagens macaenses5. Poderíamos também incluir o inglês, Austin Coates, durante muitos anos residente em Hong Kong, que tinha um interesse profundo pela história de Macau. Este interesse deu à luz várias obras, entre as quais o romance histórico, City of Broken Promises (1967), um modelo para outros romances publicados por autores portugueses de Macau na década de 906.
A contrapartida desta posição de “porta aberta a todos” seria aceitarmos apenas aqueles autores nascidos e criados em Macau como verdadeiros expoentes da literatura de Macau. Neste caso, a lista seria bem mais curta, e se limitássemos a definição àqueles textos escritos em patuá, então a lista seria ainda mais restrita. Em qualquer debate sobre a literatura que se faz em/sobre Macau, deveríamos ficar sensíveis à origem dos autores e à questão linguística, e dada a natureza híbrida da cultura macaense e o carácter cosmopolita da sociedade que evoluiu em Macau ao longo dos séculos, a melhor solução talvez seja deixar a possibilidade de uma certa triagem, observando assim o espírito das palavras do macaense da diáspora, Frederic A. Silva, que afirmou que ser macaense é sobretudo um estado mental (Pittis & Henders: 222). Daí também a necessidade de falarmos na escrita em Macau, mais do que na literatura macaense.
Uma das considerações que convém fazer é perguntar se é possível distinguir uma escrita emergente em Macau, em concerto com as literaturas que emergiram nos outros territórios ‘ultramarinos’ portugueses a partir da década de 40 (ou de 30 se incluirmos Cabo Verde). Nas colónias africanas, havia, e pelas mesmas razões que em Macau, uma tradição jornalística, e em Angola pelo menos, essa tradição tinha incentivado as primeiras manifestações literárias em finais do Século XIX. Seria necessário pesquisar em bibliotecas públicas e particulares em Macau para saber se havia também uma ligação entre o jornalismo e a produção literária, como aliás havia em Goa. Por outro lado, uma vez que o colonialismo na sua última fase começou a estabelecer-se, a literatura que se passou a produzir em/sobre Angola e Moçambique, passou a ser de teor exoticista, e tinha por fim mais ou menos explícito justificar a missão colonizadora. Foi este o caso tambem em relação a Macau, se bem que mais limitado, como evidenciado nos romances de Jaime do Inso (Caminho do Oriente) e de Emílio San Bruno (O Caso da Rua Volong). Mas nos anos a seguir ao fim da Guerra do Pacífico (1941-45), à medida que a vida civil em Macau se foi normalizando, o jornalismo começou a florescer novamente, e não é por acaso que a primeira escritora macaense a manifestar o que poderíamos chamar uma consciência regional, fosse jornalista. Os contos de Deolinda da Conceição, publicados em 1956 com o titulo de Cheongsam – A Cabaia, refletem o potencial literário de uma geração de macaenses que também incluía Luís Gonzaga Gomes, cuja obra se dedicava a explicar e analisar as tradições culturais chinesas de Macau, José dos Santos Ferreira, expoente de uma literatura popular em patuá, ou Língua Maquista, e o futuro romancista, Henrique de Senna Fernandes. Fernandes começou a escrever contos quando estudante em Coimbra, e de facto, um dos seus contos mais conhecidos, ‘A-Tchan, a tancareira’, ganhou um prémio literário no meio estudantil daquela cidade. Influenciado de certa forma pelo realismo social da época, e talvez em resposta às incipientes manifestações literárias dos seus colegas africanos - ao fim e ao cabo, Agostinho Neto era estudante em Coimbra na mesma altura, e a Casa dos Estudantes do Império em Lisboa organizava eventos em que se debatia sobre questões culturais - é razoável concluir que Fernandes quisesse expressar a realidade social e regional da sua longínqua terra, tal e qual como faziam os luso-africanos e até açorianos da época7. Há também evidência de uma actividade cultural em Macau na década de 50, através da revista Mosaico, incentivada pelo Círculo Cultural de Macau, cujos membros eram pessoas ligadas à administração, em Macau a serviço, ou às forças armadas ou a outras profissões, além de intelectuais macaenses como Gonzaga Gomes. Não sabemos exactamente por que é que esta actividade terminou, mas seria legítimo concluir que a crise de 1961 tenha tido profundas repercussões em Macau: o início da guerra colonial em Angola e, talvez mais importante na óptica dos macaenses, a invasão de Goa, Damão e Diu precisamente numa altura de incerteza sobre o futuro imediato de Macau. Tudo leva a crer que os eventos em África e na ĺndia, sem falar na hostilidade latente de uma China em plena revolução Maoista, tiveram o seu efeito no território, e especialmente sobre os macaenses, cujo sentimento de identidade dependia, paradoxalmente, do vínculo com Portugal. Talvez seja por isso que a expressão de um regionalismo macaense tenha caído num relativo silêncio até a década de 80, e muito especialmente de 90. No entanto, a década de 60 viu chegar a Macau uma escritora cuja carreira literária ficaria intimamente ligada ao território. A China Fica ao Lado, colecção de contos de Maria Ondina Braga, e inspirada pela estadia desta autora na cidade entre 1961 e 1965, foi publicada pela primeira vez em 1968.
Esquecemos muitas vezes que as guerras coloniais em Angola, Moçambique e Guiné eram também guerras entre literaturas. Havia uma literatura dos guerrilheiros muitas vezes tão limitada em termos de qualidade literária como a literatura que apoiava o regime colonial. No entanto, entre esses dois extremos, havia escritores e uma actividade editorial dedicados a contribuir para a dinamização da vida cultural das colónias africanas. Depois de 1975, alguns dos luso-angolanos e luso-moçambicanos que participaram nesses movimentos, apanhados no meio das guerras já pós-coloniais, se estabeleceram em Macau, onde iriam contribuir para o surto literário em português da década de 808. Deixaram para trás países já politicamente independentes, onde a literatura desempenhava um papel considerado fundamental na formação da nação, e onde pouco a pouco os escritores começaram a cultivar o lado estético além do meramente político da produção literária. Na segunda metade da década de 70 havia um crescente interesse em Portugal nas literaturas africanas de expressão portuguesa graças, em grande parte, ao impulso dado por críticos e académicos como Manuel Ferreira e Salvato Trigo entre outros. Por isso, não nos deve surpreender o facto de o macaense, Henrique de Senna Fernandes, ter lançado precisamente em 1978, a sua primeira colecção de contos, Nam Van – Contos de Macau, que incluía o já referido ‘A-Tchan, a tancareira’. A publicação de Nam Van nessa altura reflete claramente a necessidade que o autor sentia que Macau fosse representada na emergente literatura lusófona pós-colonial.
Nos anos 80, com a aproximação do acordo luso-chinês de 1987, a corrida para uma literatura de Macau em português parecia intensificar-se, e a publicação do primeiro romance de Senna Fernandes, Amor e Dedinhos-de-Pé (1986), tendo como tema um drama macaense, com personagens macaenses num mundo dominado por macaenses e numa determinada época histórica da cidade, era sintomática dessa intensificação da produção literária, assim como o seu segundo romance, A Trança Feiticeira (1992), que focaliza muito mais explicitamente a necessidade de preservar a identidade de Macau, reconciliando os macaenses também com a sua herança chinesa, e preparando-os para a inevitável troca de bandeira.
No entanto, Fernandes não estava só. Nesta altura, havia um elevado número de portugueses a residir no território: jornalistas, professores, trabalhadores nos meios de comunicação, funcionários públicos, vindos de Portugal. Havia outros que visitavam Macau por períodos mais limitados. Muitos escreveram poemas ou ficção que tinham por tema ou pano de fundo Macau e a China. Este orientalismo de última hora foi facilitado pela emergência de instituições estatais e fundações privadas que subsidiavam a publicação de livros, sem esquecer a importância de editoras como Livros do Oriente, fundada por Beltrão Coelho e a jornalista macaense, Cecília Jorge. Até certo ponto, estas instituições fizeram para Macau o que as uniões e associações de escritores fizeram nos países africanos de língua portuguesa nas décadas de 70 e 80. Foram muitos os portugueses em Macau que publicaram livros, demasiados para fazermos uma apreciação de cada um aqui, mas vale mencionar apenas os seguintes: Rodrigo Leal de Carvalho, residente em Macau durante quatro décadas, e com uma carreira passada quase inteiramente nas colónias, e que acabaria por ser o romancista mais prolífico do período, com uma série de romances que enfocavam muito particularmente as várias diásporas do território. E na poesia, Jorge Arrimar e Fernanda Dias, cujas experiências de Macau manifestam algumas semelhanças, sendo ambos conscientes da sua condição de ‘exilados’, Arrimar como luso-angolano, cuja infância foi passada na zona rural do sul de Angola, e Dias, em cujos poemas, há muitas vezes o eco de um longínquo sul de Portugal, longínquo tanto no tempo como no espaço. É interessante também notar que estes três escritores originavam nas periferias do então mundo português, Carvalho dos Açores, Arrimar do Huila, e Dias do Alentejo, descobrindo a sua vocação criativa numa outra periferia, fazendo dela o centro do seu mundo imaginado.
Enquanto o longo período de residência em Macau parece tê-los transformado em escritores publicados, outros que passaram pelo território chegaram como escritores já consagrados em Portugal, autores como Rebordão Navarro, Agustina Bessa Luís, e João Aguiar, que produziram obras inspiradas pela história ou pela realidade social e cultural da cidade. Tudo isto, como já foi mencionado, decorreu das circunstâncias históricas pelas quais Macau passava, mas era como se se procurasse deixar um legado literário em língua portuguesa, que de alguma forma ou outra, reforçasse a posição da língua. Se os autores estivessem conscientes disso ou não, não há dúvida de que este ambiente, pela primeira vez desde os anos 50, encorajou a re-emergência de uma vida jornalística, literária e cultural.
Depois do ‘handover’, esta actividade literária em português acabou quase completamente, apesar de algumas tentativas de resuscitá-la. No fundo, com a partida da administração portuguesa, as circunstâncias deixaram de existir para que uma literatura em português circulasse. A característica de Macau é que não há uma cultura linguística com a qual todos podem identificar a não ser, como é natural, o chinês, mas mesmo aqui há uma complicação, já que a língua utilizada pela grande maioria da população é o cantonense, e não a língua oficial da Republica Popular da China, o que não significa que não haja enormes pressões para aprender e utilizar o mandarim. Por outro lado, há um elevado número de pessoas em Macau que estudam o inglês, e este factor tem o seu efeito na produção literária, se tomarmos como exemplo os cursos no deparatmento de inglês da Universidade de Macau em ‘Creative Writing’, dirigidos pelo poeta australiano, Christopher (Kit) Kellen. Aqui, talvez haja o elemento embriónico de uma vida literária centrada neste programa e na Associação de Estórias em Macau, o seu braço editorial, que já lançou vários volumes de contos e poemas da autoria do coordinador do curso e dos seus alunos. Em 2008, Kelen coordenou a publicação de uma antologia de poesia de Macau em chinês, português e inglês (mas com a versão original em paralelo). Trata-se, é claro, de uma iniciativa louvável, e podíamos argumentar que é melhor do que nada uma literatura lida através do intermédio do inglês para tentar contestar o materialismo desenfreado provocado pela ‘cultura’ do jogo, e pela transformação da cidade numa Las Vegas oriental. Mas o que parece estar a acontecer em Macau, é que a hibridez luso-cantonense, evocado na ficção de Henrique de Senna Fernandes e outros, está a sofrer um aperto entre duas forças incontornáveis – por um lado o mandarim, a língua de coesão nacional e cada vez mais internacional, por outro o inglês, a língua da chamada ‘globalização’.
Quanto à literatura em língua portuguesa, dois diários e dois semanários em português garantem a continuação de uma tradição ensaística que remonta ao início do Século XIX. E não é por acaso que, para marcar os cinco anos do handover, um desses semanários, Ponto Final, tenha lançado um incentivo para a publicação de várias obras de ficção tendo como pano de fundo Macau, recorrendo à tradição do folhetim. A iniciativa pretendia produzir cinco obras de ficção. Até agora, só três títulos foram publicados em forma de livro9. Tão importante para a identidade própria de Macau é a sobrevivência do pátua como expressão cultural. E parece que aqui, apesar de não ser utilizado no dia a dia, a actividade do grupo Doci Papiaçam, liderado por Miguel de Senna Fernandes, conseguiu não só actualizar o teatro em termos de temas, mas encorajou a participação de chineses, o que comprova que se há um fosso linguístico em Macau, este pode ser vencido pelo humor e pela sátira.
* * *
Este ensaio tratou de mostrar como a escrita em Macau tem sido um produto de circunstâncias extra-literárias. Tal como em outras áreas pós-coloniais, não podemos divorciar a literatura da sua função social, ou seja, o desejo de criar literatura provém muitas vezes de um ambiente propício ao debate cultural em torno da defesa de um património aparentemente ameaçado, ou de uma injustiça social e política. Em Macau, este debate surgiu nos anos 50, e novamente na década de 90. A expressão de uma realidade regional única mudou de teor desde a passagem da administração do território para a China e a saída de muitos portugueses. Isto não significa que não possa surgir um autor macaense de envergadura em língua portuguesa, mas as leis do mercado determinarão que qualquer obra seja publicada em Portugal e/ou no Brasil e aceite pelo público leitor nesses países. Na realidade, Macau é um espaço multilingue, sendo que a sua própria especifidade e identidade dentro da China sejam baseadas num certo cosmopolitismo em que o chinês, o inglês e talvez o português tenham um papel a desempenhar neste início de milénio, traduzindo a realidade do mundo de Macau para leitores em diversos espaços linguísticos.



Arrimar, Jorge & Yao Jing Ming, org. 1999. Antologia de Poetas de Macau. Macau: Instituto Camões/Instituto Cultural de Macau/Instituto Português do Oriente.
Braga, Maria Ondina. 1968. A China Fica ao Lado. Lisboa, Bertrand.
Bruno, Emílio de San. 1928. O Caso da Rua Volong (Scenas da Vida Colonial). Lisboa: Tipografia do Comercio.
Castro, Brian. 1991. Pomeroy. Sydney/London: Allen & Unwin.
Castro, Brian. 1999. Looking for Estrellita. St Lucia: Queensland University Press.
Castro, Brian. 2003. Shanghai Dancing. Sydney, Giramondo Publishing.
Cheng Wai Ming. S/d. Literatura chinesa de Macau entre os anos oitenta e os princípios da década de noventa. Macau: Administração, 29, vol. VIII, 3o, pp.501-523.
Coates, Austin. 1967. City of Broken Promises. Hong Kong: Oxford University Press.
Conceição, Deolinda da. 1956. Cheong-sam – A Cabaia. Lisboa, Livraria Francisco Franco.
Fernandes, Henrique de Senna. 1978. Nam-Van (Contos de Macau). Macau, Ed. do Autor.
Fernandes, Henrique de Senna. 1986. Amor e Dedinhos-de-Pé (Romance de Macau). Macau, Instituto Cultural de Macau.
Fernandes, Henrique de Senna. 1992. A Trança Feiticeira. Macau, Instituto Português do Oriente.
Inso, Jaime do. 1932. O Caminho do Oriente. Lisboa, Tipografia Élite.
Laborinho, Ana Paula. 1999. Por uma literatura de Macau. Antologia de Poetas de Macau. Macau: Instituto Camões/Instituto Cultural de Macau/Instituto Português do Oriente, pp.17-21.
Liao Zixin. 2003. Les hallucinations d’Ao Ge (trad. Françoise Naour). Paris: Bleu de Chine.
Lou Mau. 2000. Olhando as Colinas (trad. António Lei). Macau: Instituto Cultural.
Martini, Edith Jorge de. 1993. The Wing among the Ruins: A Childhood in Macao. New York: Vantage Press.
Nery, Felipe B. 1988. Filho de Macau (A Son of Macao): An Autobiography. New York: Vantage Press.
Pittis, D. & Henders, S.J (eds). 1997. Macao: Mysterious Decay and Romance. Hong Kong: Oxford University Press.
Trigoso, Maria José (org.). 1998. Sete Estrelas (Antologia de Prosa Feminina). Macau: Instituto Cultural de Macau.

No comments:

Post a Comment